CONSOLAÇÃO
(OLAVO BILAC)
Penso, às vezes, nos sonhos, nos amores,
Que inflamou à distância pelo espaço;
Penso nas ilusões do meu regaço
Levadas pelo vento a alheias dores...
Olavo Bilac
GLOSA
Penso, às vezes, nos sonhos, nos amores,
Que voaram de mim espaço fora,
Mesmo assim, me distraem, criadores
De emoções que demoram ir embora.
Eram amores caros de outra era
Que inflamei à distância pelo espaço;
Vivi-os numa doce primavera
E a mandar-lhes sonetos num abraço.
Penso num tempo casto e não devasso
Como ele hoje é de tanta liberdade;
Penso nas ilusões do meu regaço,
Na vida da família com saudade.
Sonho e lembro pessoas tão amigas,
Que foram bons poetas, escritores;
E com eles se foram as cantigas
Levadas pelo vento a alheias dores…
Clarisse B. Sanches - Góis Portugal
P. S. Último artigo publicado em vida por D. Clarisse Barata Sanches. Faleceu a 25 de dezembro de 2018 e as cerimónias fúnebres realizaram-se a 27 do mesmo mês. Ler mais aqui...
LÁGRIMAS OCULTAS
“Se me ponho a cismar em outras eras”
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me-que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…
FLORBELA ESPANCA
GLOSA
“Se me ponho a pensar em outras eras”,
Medito nessa vida, com Saudades
De sonhos encantados e quimeras,
Aonde eu via só felicidades!
Hoje choro de penas e de amor
“Em que ri e cantei, em que era querida”,
E via o meu Jesus em cada flor
A decorar no campo, a linda Ermida!
Agora, sinto penas e, deveras,
Meu cérebro já cheio de memórias,
" Perece-me que foi noutras esferas”
E que tudo o que digo são histórias!
Mas não. Eu via amigos e abraços
A dizerem-me adeus na despedida
A com flores, até, no meu regaço,
" Parece-me que foi numa outra Vida.”
Clarisse Barata Sanches - Góis - Portugal
"As fêmeas que estão à procura de um companheiro tornam-se extremamente ativas por volta da meia-noite"
QUADRA DE FLORBELA ESPANCA
Toda esta noite um rouxinol chorou!
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém se que se finou!
FLORBELA ESPANCA
GLOSA
“Toda esta noite um rouxinol chorou”
Chorou e não deixou dormir a gente,
E só de madrugada se calou;
Mas porque estava ele descontente?!
Abri uma janela, ele cantou,
“Gemeu, rezou, gritou perdidamente!”
Mas, num momento, alegre, se calou
Ao ver a companheira à sua frente!
Sem ela, numa noite, impaciente,
Apeteceu-lhe logo ir voar,
“Alma do rouxinol, alma de gente,”
E abala de manhã com o seu par…
Andava arreliado o rouxinol
E nesse voo, lindo, ele escutou:
Deixa te de lamúrias, olha o Sol!...
"Tu és, talvez, alguém que se finou!"
Clarisse Barata Sanches – Góis
Mote
O tempo exerce o poder
como se fosse um tirano
que se faz obedecer
por todo o género humano!
João de Castro Nunes
GLOSA
"O tempo exerce o poder"
qual a justiça severa.
É assim que tem de ser,
e já dantes assim era.
Seja rico ou seja pobre
"como se fosse um tirano"
ele não distingue o nobre
em qualquer dia do ano.
Sua regra de viver
é pura democracia...´
"que se faz obedecer"
por uma lei de chefia...
Se o mundo assim se gerisse
ante um dever e um plano,
havia menos sandice
"por todo o género humano."
Clarisse Barata Sanches
MOTE
Entre as personalidades
do "Centro de referência"
falta o Roque sem maldades
na sua santa demência!
JCN
João de Castro Nunes
GLOSA
"Entre as personalidades"
da nossa esfera atual,
Faltam as mentalidades
de Pedro Alvares Cabral..
Havia mais honradez
"do Centro de referência"
tinha fibra o português
e era nobre na gerência.
Hoje, a muita liberdade
já ninguém a leva aos Céus,
"falta o Roque sem maldade"
que era uma alma de Deus.
Escasseia a barba branca...
E gente de mais decência
e também de mente franca
"na sua santa demência!"
Clarisse B. Sanches
MAIOR DOR
Nunca negueis o amor, a ternura e o carinho
Ao triste, ao infeliz que deles necessita;
Nunca negueis alívio à dor da alma aflita,
Nem caridade ao ser mais sórdido e mesquinho
Francisco dos Santos
Em grata memória deste saudoso Amigo com muitas saudades lhe dedico esta minha glosa, duma quadra de um soneto seu muito extraordinário.
GLOSA
"Nunca negueis o amor, a ternura, e o carinho"
A quem a sua sorte não sorriu na vida,
Nem lhe negueis, agora, neste burburinho…
Um caldo à vossa mesa e mesmo uma guarida!
“Dar-lhes denodo e génio, neste seu caminho”
“Ao triste, ao infeliz que deles necessita…”
É servir o Senhor, se vive tão sozinho
Abandonado, e a ver-se numa ação bonita!...
Não desviai os olhos, não, desta desdita
E porque vive cá, de modo tão tristonho
“Nunca negueis alívio à dor da alma aflita,”
A quem Deus permitiu, também, na vida um sonho.
A dor é bem cruel, viver sem ter um lar
Que a crise lhe roubou e fê-lo pobrezinho;
Jamais negueis afeto e mesmo um “doce olhar”,
Nem caridade ao ser mais sórdido e mesquinho!”
no seu livro "Enlevos de Alma” fui, eu, encontrar o seu bonito soneto A Maior Dor, colado no fim do livro.
Clarisse Sanches - Góis - Portugal
ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE
1961- 1985
“Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na Terra sempre triste.”
Luís de Camões
Glosa
“Alma minha gentil que te partiste”
E nos deixaste nesta ansiedade.
Eras a terna Graça que floriste
E encheste o nosso peito de Saudade!
Se Deus te quis, um dia, no Seu lar
“Tão cedo desta vida descontente”
Seria pra teu bem, pra te encantar,
Que a Terra cada vez é mais pungente!
Voaste como um Anjo, e inocente,
Mas se correu tão mal a cirurgia,
"Repousa lá no Céu eternamente”
Como eras linda e cheia de alegria!
O meu saudoso Adeus, Graça Maria,
Tão penoso que foi, como tu viste!
Oh! Canta-me suave melodia
“E viva eu cá na Terra sempre triste.”
Clarisse B. Sanches
OLHA ESTAS VELHAS ÁRVORES!
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
Olavo Bilac
GLOSA
“Olha estas velhas árvores mais belas”
À beira dos cem anos, é verdade!
Quantos beijos de amor não viram elas
Nas aves a cantar felicidade?
Verdes ainda encerram mais valor
“Do que as árvores moças, mais amigas,”
São fortes e amorosas de calor
Para darem descanso das fadigas.
À sombra delas cantam raparigas
Que as louvam pela sua Natureza;
“Tanto mais belas quanto mais antigas”
Se admiram por seu porte de grandeza!
Homem, respeita as árvores com calma,
Dignas de figurarem numas telas…
Elas são como nós de corpo e alma,
“Vencedoras da idade e das procelas…”
Clarisse Sanches
A RESPEITO DO LIVRO “MOTES DE ALEIXO”
E GLOSAS DE CLARISSE BARATA SANCHES
GÓIS - PORTUGAL
Por Renã Leite Pontes
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Os versos, “Glosas de Aleixo”
Feitos por Dona Clarisse,
Têm prumo, verdura e eixo...
Foi Renã Pontes quem disse.
Parecem “Lago de Prata”
Com dois cisnes namorando.
Dona Clarisse Barata
Lhes fez como um memorando
Enviado ao Céu de amor,
Como tribuna do povo.
Canto Sacro de fervor
Recebendo o ano novo.
Enfim, o livro é perfeito,
Redondilhas de valores,
Merece pelo seu preito
O meu condão de louvores.
Renã Leite Pontes / Acre / BRASIL
QUANDO NÃO TENHAS À MÃO
MOTE
Quando não tenhas à mão
Outro livro mais distinto,
Lê estes versos que são
Filhos das mágoas que sinto.
António Aleixo
GLOSA
"Quando não tenhas à mão"
Um livro mais a teu jeito,
Lê obras de Salomão
Que era um Homem de respeito.
Podes ler, a qualquer hora,
"Outro livro mais distinto;"
O da Bíblia: "Luz da Aurora!,
O mais lido, se não minto.
Lê Camões com atenção,
Cruz e Sousa, António Nobre;
"Lê estes versos que são"
"Lembranças"duma alma pobre.
São quadras de sentimento,
Da vida como a pressinto;
Muito simples, sem alento,
"Filhos das mágoas que sinto."
Clarisse B. Sanches
MOTES DE ALEIXO
E
GLOSAS DE CLARISSE
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e Ctrl+V p/colar
o selo no seu blog)
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