Quinta-feira, 25 de Setembro de 2008

PROVA DE VIDA

                      

 

Andreia vai pela rua cambaleante, ao acaso, numa cidade de grande movimento, ninguém se apercebe daquela vida, que Deus dotou de afectos e inteligência.

Mas eu notei algo de estranho e abeirei-me dela e disse:

- Boa tarde, minha senhora! Parece-me triste, apoquenta-a alguma coisa? Poderei ajudá-la? Muito agradecida, mas não pode. A minha vida fazia um romance e é verdade que precisava de desabafar com alguém, mas numa hora destas e num sítio de tanto movimento é impossível.

- Mas marca-se uma hora para nos encontrarmos as duas. Onde mora?

- Num velho casebre, nos arrebaldes da cidade e ainda é um bocadinho longe.

- Mas eu vou consigo, para ficar a saber aonde reside.

Parámos, então, à porta de uma velha e pequena casa e despedimo-nos com um até amanhã.

No dia seguinte, bati – lhe à porta e ela mandou-me entrar, muito delicadamente. A casa era de estilo pobre, mas muito arranjadinha. Possuía, até, um pequeno escritório.

- Desabafe, então, comigo, minha amiga. Não receie. Sou Voluntária e trabalho com idosos e até nos Hospitais.

Já percebi e o meu medo fugiu-me, logo, apenas olhei a sua fisionomia. Vivi muitos anos na América do Norte, onde tive uma vida bem desafogada, graças a Deus. O meu saudoso marido era Tipógrafo e eu Escritora com Editor certo e muito consciente. Publiquei lá 12 livros em prosa e seis em poesia. Deixei um nome muito conhecido, naquele país, que tive de deixar.

Tive três filhos, que ao casarem me abandonaram. Eles e as mulheres só vinham â minha casa para me sacarem o dinheiro todo que eu ganhava. Cheguei a passar fome. Eles não sabiam governar-se, esbanjavam tudo em passeios e festas e vinham com os meus netos, para eu sentir pena e dar-lhes o que eu tinha e não tinha…

Ao ver-me na miséria e sem estima nenhuma da família, resolvi voltar â terra que me viu nascer, onde já tenho poucos parentes.

Pus um anúncio num jornal, faço traduções e ensino uns garotos do bairro. E é com isto que me governo. Sabe o que eu andava a fazer, naquele momento em que me encontrou? Andava em busca de um Editor, para publicação do meu litro “Prova de Vida”, ou seja, a minha vida própria. Corri Editoras e não encontrei nenhuma que desejasse, ao menos, ler a minha obra.

- Porque não tenta escrever ao seu Editor da América. Poderá até mostrar-se interessado?

- Já me ocorreu isso. Mas nem trago cabeça para me abalançar a esse evento.

- Eu vou ajudá-la. Dê-me o seu endereço e uma fotocópia da obra, que estou com curiosidade de a ler também.

- Está um bocadinho romanceada para lhe dar uma certa graça. Mas as puras verdades estão lá todas bem impressas.

Como a Andreia tinha já prontas as fotocópias, eu levei-as na mala e fui tratar do assunto.

Esperámos um mês e já com poucas esperanças, mas a boa nova chegou. Os Editores, depois de apreciarem e estudarem o enredo, resolveram editar-lhe a obra, que veio a alcançar um grande êxito. O livro que ela andou por aí a oferecer, de Casa em Casa, de Editora em Editora, foi traduzido em várias línguas e ela recebia, de quando em quando, uma razoável fonte de rendimento que ela distribuia por Casas de crianças e idosos. Também ainda para a Liga contra o Cancro.

Lembrava-se dos netos, quem sabe não estariam na penúria?! Foi, então, à Embaixada Americana, para saber dessa situação.

Hoje, bendiz a hora em que me encontrou numa rua movimentada da cidade, que fez transformar a sua vida e realizou o seu belo sonho, que há muito trazia na mente.

“Prova de Vida” é hoje um livro credível, apetecível de ler, com boa saída para as famílias que desejem instruir-se e melhor educar seus filhos e netos. Sabe-se que a sua obra está a servir de ensino, em muitas Escolas públicas e privadas.

Andreia não é só um talento à vista, mas além do mais, tem um coração grande, que a fez mulher de boas ideias e agradece a Deus poder situar-se melhor na vida, especialmente, para poder contribuir, com a sua obra moral e espiritual, para o bem de toda a humanidade.

Também eu me sinto feliz, por ter ajudado, com a minha decisão, uma mulher instruída e boa, que merecia um lugar especial na História do seu País.

C.B.S.  

 

                                                           ANDREILUMINÁRIA!

 

 

Há laivos de angústia no peito de Andreia,

Divaga sozinha p'las ruas da dor;

Carrega uma cruz de penosa odisseia,

Sem paz, sem "família", sem elos de Amor!

 

 

Já fora ditosa, mas, desiludida,

Vai triste, alheada a tudo que vê,

Levando na mala a "Prova de Vida"

Da sua desdita, mas que ninguém lê...

 

 

 Tentei ajudá-la, como Voluntária,

 Quem sabe não fosse, também, luminária

 Naqueles escritos que fez de raiz...

 

   Um livro de mágoas, de Fé, de Verdade

  Com pranto nos olhos e terna Saudade,

  Que um dia surgiu a fazê-la feliz!

 

C.B.S. 

   

 

                                  


publicado por canticosdabeira às 13:32
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3 comentários:
De Rosa Silva ("Azoriana") a 29 de Setembro de 2008 às 00:15
A Clarisse Sanches

Quem faz bem neste mundano
Recebe novo tesouro
Que no coração humano
Chega a valer mais que ouro.

Há uma quadra feliz
Que se canta com verdade:
Ajudando, há quem diz,
Ganha-se a eternidade.

Quem se sente predestinado
Para ajudar um irmão
E aceita esse cajado
É Pastor de coração.

Lembro agora os Pastorinhos
Que seguiram sua Mãe
E até pelos caminhos
Rezavam o Terço também.

E há quem faz sua reza
No Outono duma vida
Toda a quadra embeleza
Com o verso-flor garrida.

E nas Glosas coroadas
De uma grandeza d'alma
Serão pra sempre lembradas
Nos ecos da maior palma.

Beijinhos


De Rosa Silva ("Azoriana") a 29 de Setembro de 2008 às 00:22
Os versos que fiz são o agradecimento público dos 2 livros que me enviou: "Góis e seus Poetas - 2ª edição" e "Hinos da Tarde".

E destaco uma quadra que me sensibilizou muito, deste derradeiro título acima escrito:

"Pode o filho estar na cela,
Ser ladrão ou vagabundo,
Mas será sempre p'ra ela
O melhor filho do mundo!"

E esta:

"Coração de mãe, ardente,
Deus fê-lo à prova de chama!
E o facto é bem evidente:
- Quanto mais sofre, mais ama."

Lindas quadras de Clarisse Sanches e com uma mensagem rica.

Muito obrigada e Deus lhe pague com saúde e o que mais desejar para si e para a Judite.

Beijinhos


De canticosdabeira a 29 de Setembro de 2008 às 12:44
Góis, 29 /09/2008
Amiga Rosa

Obrigada pelos seus versinhos e escritos.
Que Deus a ajude nas suas mais prementes necessidades.

Abraços
Clarisse


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Aos “Rosários de Amor”


Boa amiga Clarisse,
Converti-me aos seus Amores.
São lindos os versos-flores!
Chorei... Queria eu que visse...

Não sei que “frio” me toma,
Ao ler tamanha beleza...
Não é frio, com certeza,
É o amor que me assoma.

Beijadas por andorinhas,
Se fazem as suas linhas,
Com glória, honra em flor.

Solta-se o “Grito de Paz”,
E ninguém mais o desfaz
Nos ”Rosários de Amor”.

Rosa Silva (“Azoriana”)
Angra do Heroísmo
2008/04/07

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